"Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. " ( W. Shakespeare. )
"Era uma manhã normal de um mês qualquer do ano de 1918, completava meus 19 anos quando o mensageiro toca em nossa porta trazendo o que acabaria com minhas esperanças de vida.
Ele possuía em suas mãos a convocação para ingressar no exercito nacional.
Para qualquer outro jovem isso seria uma oportunidade única, mas pra mim? Pra mim era uma passagem só de ida, quer dizer os que conseguia voltar vinham faltando pedaços ou completamente malucos e não recebiam o mérito pela sua coragem e amor a pátria como sonhavam.
Eu, diferente de todos jovens daquela época, nunca gostavra de esportes, festas e das farras copiadas das rádios-novelas estrangeiras.
Porém não tinha o que ser feito e em menos de uma semana já havia cancelado o curso de advocacia que lutará tanto para ingressar na capital e deixara Manuela para partir rumo a guerra.
Isso foi o que mais dilacerou meu coração, ver minha futura noiva aos prantos enquanto embarcava com destino a morte.
Ver aquela doce menina dos olhos verdes que me conquistara durante as tardes de estudo se esvaindo em lágrimas enquanto me segurava forte contra seu corpo durante um eterno abraço acabou com qualquer coragem que deveria me transbordar naquele momento.
Sua despedida me ferirá mais que qualquer tiroteio em campo inimigo.
Me soltei de seus braços segurando as lágrimas que teimavam em escorrer e tomei meu lugar no vagão. Durante o percurso, a imagem de Manuela as lágrimas não abandonara minha mente se quer um minuto e era o que me fazia amaldiçoar cada vez mais aquele que escolherá meu nome na lista de convocação.
A longa viagem forçava todos a dormir, pudera eu fazer isso. Sonhos assolavam meu sono a todo momento, me fazendo acordar assustado e foi num desses pesadelos que Pedro, um marinheiro que estava sentado no banco de trás me acordou.
Despertei desesperado e ele me acalmou, disse que era assim mesmo na primeira viagem e me mandou ficar tranquilo.
Fomos conversando o caminho todo até chegarmos na capital, aonde iríamos cada um para sua base, já que ele não sentia sono e eu, eu menos ainda.
Pedro era um jovem serio, mas não deixava de ser simpático e trazia esperanças nos olhos, era calmo e muito concentrado. Nos tornamos amigos naquele momento.
Ao chegar na capital, logo peguei uma caderneta e escrevi o que eu passei pela viagem, e a primeira impressão do alojamento.
Passaram meses e eu fui escalado para viajar novamente. Meu coração se apertou e minha esperança de voltar pra casa logo se extinguiu.
Escrevia cartas e mais cartas para Manuela contando como era meu dia e o quanto ela fazia falta, e acreditem... Como ela fazia. E aproveitava sempre para cobrar-la, de uma maneira amorosa, que eu estivesse sempre vivo em seu coração e que ela não esquece-se de contar como passava.
Embarquei num dia 23 de Março do ano seguinte sem saber para onde ia, apenas que enfrentaríamos combates sangrentos.
Me lembro de ouvir o pranto de vários soldados no alojamento durante a noite, sim estávamos apavorados. Também pudera, estávamos indo para o campo de batalha pela primeira vez depois de um ano sem noticia de familiares.
Eu escrevia, e escrevia muito. Me recordo de um avô me dizendo que nos momentos dificeis escrever seria uma otima forma de reflexão, nunca deixei de escrever desde então. Escrevia cartas, poemas, contos. Sempre tive a facilidade de dançar com as letras e isso me ajudou durante o tempo que fiquei isolado de tudo que amava.
As noticias que vinham dos campos não eram nada animadora pra nós que estaríamos entrando em batalha dali poucos dias. Isso me preocupava e me fazia lembrar de todos os momentos com meus pais, com Manuela e isso me deixava triste.
Nossa primeira luta vencemos e eu sai ileso e assim sucedeu por mais algumas batalhas.
Já haviam se passado três anos desde que fui convocado e deixei minha noiva. Era uma tarde de Outubro que os alarmes soaram e não tivemos tempo de nos armar, o nosso alojamento fora bombardeado por aviões inimigos e todos foram pelos ares.
A bomba caiu próximo do quarto aonde estava, me projetando parede a fora. Nesse dia me machuquei bastante, tendo que voltar para minha base inicial, na capital.
No caminho de volta, agradecia a cada momento por estar voltando e talvez logo poderia estar em casa, reencontrar Manuela e continuar minha vida.
Foi enquanto eu sonhava com isso que sinto uma mão no meu ombro, era Pedro.
-Posso me sentar?
-Claro, Pedro.
Ele trazia em mãos um malote cheio de cartas abarrotadas.
-Isso aqui é seu, quando você foi convocado para viajar ninguém avisou sua mudança e todas as cartas destinadas a você chegavam aqui e ao ver que iam jogar fora... resolvi guarda-las pra você.
-Não esperava te reencontrar, posso dar uma olhada?
-Claro, são suas.
Eu comecei abrir carta por carta, eram todas de Manuela.
-Não entendo, essas cartas eram pra ter chego a tempos atrás, e nunca senti nem o cheiro.
Ao começar a ler as cartas me emocionei, cai em choro como uma criança e acabei manchando mais ainda as linhas daquela triste carta.
Me arrependi profundamente por ter pensado que Manuela havia me esquecido.
Dessa vez peguei no sono e ao acordar já estava na base, meus ferimentos doíam muito e eu queria ir pra casa.
O medico do batalhão me examinou e por sorte disse que não teria condições de continuar em combate.
As minhas preces finalmente seriam atendidas e logo já estaria embarcando para minha cidade.
Ainda não tinha terminado de ler as cartas mandadas por Manuela, e foi numa carta escrita do dia 14 de Julho do ultimo ano que fez meu coração quase parou.
"Já faz uma semana que não me alimento direito, me sinto fraca.
Não pela falta de comida, mas pela sua falta.
A saudade me consome minuto a minuto, você não me responde as cartas.
Deve estar morto, Não! Morto não pode estar! Por favor, não morra meu amor!
Vou me deitar, nada mais faço alem de dormir.
Espero sonhar com você novamente...
Eternamente seu amor, Manuela."
E assim se sucedia todas as cartas até hoje, véspera de natal do ano de 1922.
Já estava entrando em desespero por ver o estado de Manuela e eu sem poder fazer nada, mas minha viagem para casa só estava prevista após o novo ano.
Finalmente a passada de ano acontecera e eu estaria indo para casa pela manhã, ao chegar a tristeza que deixei ao partir, continuara a mesma. Ao me aproximar da porta, vejo varias pessoas chorando, sem entender nada. Meu coração se acelera, o que teria acontecido?
Ao chegar próximo, enxergo um caixão e dentro, vejo minha doce Manuela, pálida e sem vida. Seus olhos verdes como o mar, agora estavam mortos, sem reação ao me ver.
Aquilo me ferirá mais que qualquer guerra, ver minha Manuela deitada naquele caixão fez que eu perdesse o chão de meus pés. Era como se todo o sentido de minha vida tivesse se perdido e me abandonado naquele momento. Meu peito se esvaia em lágrimas e meus olhos perdera totalmente o brilho de outrora.
Logo adoeci, mas a morte não fora generosa comigo, me trazendo firme e forte até hoje.Hoje já estou velho, e lendo o diário aonde se encontra essa historia de vida me emocionei."
-Pai, que historia mais linda!
-É linda sim, Manuela! A historia de seu vô é muito emocionante mesmo.
-Posso ficar com esse diário papai?
-Sim minha filha, fique com ele sim!
'Longo, mas espero que gostem!
Comentem!
Obrigado,
Rodrigo.